01/10/2018

Calor humano e brincadeiras aliviam as tensões de crianças pequenas hospitalizadas Projeto Colinho, coordenado por estudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, visa facilitar a recuperação dos pacientes da Pediatria do Hospital

Enfermeira Heloísa Lopes, ex-coordenadora do Projeto, conta sua experiência com o contato com os bebês da Santa Casa. Clique na imagem para ver mais fotos

O colo é um santo remédio. O que sabemos instintivamente vem sendo comprovado por pesquisas nacionais e internacionais. Diversos estudos mostram os benefícios do contato físico com a pele da mãe para bebês recém-nascidos ou com alguns meses de vida. Eles incluem redução da sensação de dor e de sua duração, diminuição da frequência cardíaca com consequente sensação de relaxamento e até mesmo a ativação de genes envolvidos no metabolismo e no sistema imunológico.

Em 2004, diante da permanência, na ala de Pediatria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), de bebês e crianças desacompanhados, foi criado o Projeto Colinho.  Desde então, estudantes da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Santa Casa de São Paulo doam pelo menos uma hora semanal para dar colo, carinho e diversão às crianças de 0 a 36 meses. Hoje, além dos graduandos, o projeto está aberto à participação da comunidade.

Curso para futuros voluntários

No dia 26 de setembro, a FCM/Santa Casa realizou o II Curso Introdutório do Projeto Colinho deste ano, para dar orientações aos estudantes e demais interessados em participar desta iniciativa. As graduandas do Curso de Enfermagem Nathalia Brainer e Nathalia Souza, respectivamente presidente e secretária do projeto, coordenaram o evento, que ofereceu instruções práticas sobre o trabalho voluntário na Santa Casa e os procedimentos exigidos para o contato com as crianças.

Tendo em vista a primeira visita dos voluntários à Pediatria, a qual é monitorada, as graduandas do Projeto falaram sobre as precauções para evitar contaminações e infecções nos pacientes. As diretrizes incluíram a técnica de lavagem de mãos e indicações de quando é necessário o uso de luvas, aventais, máscara e óculos de proteção.

A psicóloga Rita de Cássia Boni Zanolo, responsável pelo Centro Integrado de Humanização da Santa Casa de São Paulo, discorreu sobre o voluntariado na instituição. “Hoje, temos cerca de 600 voluntários em diferentes projetos e trabalhamos em parceria com ONGs e empresas”. Rita destacou que o voluntariado é um compromisso, sendo que a equipe do hospital e os pacientes esperam pela pessoa no dia e horário em que ela afirmou que estaria presente.

Quando a brincadeira torna-se terapia

A enfermeira Heloísa Lopes, ex-aluna da FCM/Santa Casa, expôs um panorama geral do Projeto e contou sua experiência como coordenadora entre 2009 e 2011. Em sua apresentação, ela defendeu o atendimento humanizado para a melhora dos pacientes pediátricos. “Fragilizadas por estarem em um ambiente hospitalar, muitas vezes as crianças ficam sozinhas, por impossibilidade de os pais as acompanharem em tempo integral ou por terem sido abandonadas. Elas estão em um ambiente desconhecido e sentem saudades de casa, dos familiares, amigos e colegas. A demonstração de afeto, através de contato físico e brincadeiras, ameniza tristezas e facilita a recuperação”.

Heloísa ressaltou que a recreação, outra atividade promovida pelo Projeto Colinho, é reconhecida legalmente como terapia para a promoção da saúde.  A Lei Federal 11.104 de 2005 determina a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação.

A técnica de brincar para aliviar as ansiedades da criança, chamada de Brinquedo Terapêutico, também auxilia na comunicação. Por meio dela, é possível explicar os procedimentos pelos quais ela vai passar e compreender como ela entende as situações que está vivendo e como se sente em relação a elas. Heloísa lembrou que, segundo a resolução 295 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), de 2004, o enfermeiro é responsável por empregar esta técnica na assistência à criança hospitalizada e sua família. No entanto, o número reduzido de funcionários e as inúmeras atribuições diárias costumam impedir o profissional de aplicá-la, tornando ainda mais relevante a atuação dos voluntários do Projeto Colinho.

A enfermeira também falou sobre o impacto do Projeto na vida dos graduandos de Enfermagem.  “Nós vivenciamos histórias tristes, como crianças abandonadas e vítimas de maus tratos. Mas são situações também presenciadas durante o exercício da profissão. O que podemos fazer é dar o nosso melhor enquanto estivermos com o paciente”.

O Projeto Colinho

Fundado em 2004 pela Profa. Dra. Maria Tereza Gutierrez, na época diretora do Departamento de Pediatria e Puericultura da ISCMSP e docente da FCM/Santa Casa, juntamente com três graduandos da faculdade, o Projeto tem a missão de oferecer conforto afetivo, alegria e carinho, além de descontrair com brincadeiras as crianças internadas ou que passam por algum procedimento médico no Departamento de Pediatria da ICMSP.

Graduandos da faculdade interessados em participar devem entrar em contato com a estudante Nathalia Brainer, presidente do Projeto. E-mail: nathi_brainer@hotmail.com .

Demais interessados em integrar o Projeto Colinho devem entrar em contato com o Centro Integrado de Humanização da Santa Casa, pelo telefone (11) 2176-7679 ou e-mail rita.zanollo@santacasasp.org.br .

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Vanessa Krunfli Haddad